OLHANDO PARA FORA DO ARRAIAL
Jesus transitou sempre no lado de fora, no mundo divergente, com facilidade e leveza. Jesus na festa da páscoa, dentro das quatro paredes, igreja local ou fariseus, percebendo que eles apontavam diretamente para Deus entregando a sua vida a Ele, mas Jesus não confiava neles. Ele os conhecia muito bem por dentro e por fora, e sabia que eram mentirosos e não eram dignos de confiança.
Jesus não traçou seu curso com base nas pesquisas de opinião popular. Deus providenciou a direção da bússola para a sua jornada completa, já caminhando para o juízo final. O altar está no coração de cada um, para atuar fora das muralhas, no mundo todo. É a prática efetiva do bem em mútua cooperação de forma respeitosa e relacional.
É dentro das quatro paredes que Jesus é questionado pelos fariseus com grandes polêmicas, culminando com a sua condenação e morte, por viver fora do arraial no mundo, não deixando se confinar nos limites da religião. É bom relembrar que a nossa ingenuidade pede aplausos, aceitação, reconhecimentos, entusiasmos e sucessos, mas Jesus é humilde e abriu mão do uso e apego da sua divindade, ficando como homem sem favoritismos e andando diferente, para servir o outro e ainda valorizando crianças. (Mt 19.14 e 22.15-21)
A fé é confiança, que é mostrada e compartilhada no lado de fora, no mundo, fora da redoma institucional da religião. Não adianta nada cantar na igreja e participar do real símbolo da ceia, sendo desonesto no trabalho, ou ter relações difíceis, separatistas e destrutivas com filhos, cônjuge e amigos. Jesus é maior que a liturgia, maior que o templo, a religião, as tradições, sendo sempre encontrado por alguém que o busque. Isto desloca a espiritualidade para os grupos de diálogos na mesa, em todo momento e em todo local no mundo, fora do arraial religioso.
O mundo observa a igreja pela sua hipocrisia, falsidade, mentiras, postergação, procrastinação, manipulação, mercantilismo numa perversão da fé. Mas ao mesmo tempo, o mundo se perturba, se choca e se interessa, vendo o oposto na comunidade relacional, como a bondade, a santidade, a generosidade e a grandeza da alma, pela grande comissão integral do corpo, alma e mente.
Não é necessário no contexto cultural, perder o elo institucional ou organizacional, mas sendo multi-denominacional, sem perder o foco da essência, sempre caminhando pelo norte único por meio de Jesus, que é abrir a mente para amar, respeitar e servir com humildade, com iniciativas e criatividade no foco e alvo correto, pela maturidade crescente na vida e não somente para dentro do arraial.
O mundo é a seara, e as pessoas no mundo, são os nossos alvos pela comissão integral, que recebemos de Jesus, por isto a cruz é erguida no lado de fora, onde podemos praticar a verdadeira santidade. Santificar é se oferecer e servir bem o outro, mas também dentro da comunidade, em amizades pela unidade na diversidade, na família, filhos, vizinhos, trabalho, escola, lazer, amigos, viagens e negócios por todo lado, pela direção na vida apenas com Jesus e por meio de Jesus.
São lutas sem mesquinharias, sem colocar um contra o outro, mas lutando contra a nossa própria natureza carnal e a do diabo, nesta vida passageira como peregrinos aqui, estando no mundo, sem amar o mundo e nem as coisas que há no mundo, uma vez que nada neste mundo é permanente e tudo passará, sendo tudo transitório.
Ler a bíblia e meditar todo dia, orar sempre sem cessar o dia todo, pensar e confessar as falhas e limitações, com gratidão ficando disponível ao outro em comunhão, sem hostilidades ou falta de solidariedade, servindo com maturidade em sacrifício. Sacrifício é a bondade, doação, generosidade, repartindo comida, alimentos aos necessitados, ajuda mútua, ombro amigo, companhia de jugo, num coletivo saudável e confiante.
É preciso sair do confinamento de dentro, sem se tornar autônomo ou individualista, mantendo o coração ligado em relacionamentos saudáveis, com submissão em companhia de jugo, e em parcerias para não se contaminar com o mundo. É viver no lado de fora, afim de que o nome de Jesus seja levantado, observado e desejado por todos para conseguir ver o rosto d’Ele.
O líder e/ou pastor como sacerdote real, deve velar e cuidar da espiritualidade integral de cada um, com práticas coerentes na vida exemplar, pelo interior do coração somente por Jesus a quem irá prestar contas, sem medo, sem gemer, sem tremer e sem mentir, formando sempre novos líderes. (Hb 13.10-17)
Qual o paralelo ou diferença existente, entre a situação dos crentes hebreus, fariseus e a nossa de hoje? O encontro com Jesus é a partir da convivência relacional em comunidade, acolhendo o diferente, formando uma grande família unida, com as crianças em geração integrada, ao repetir por três vezes, para aprender, gravar e praticar o ensino do princípio lançado na semana e na escola infantil, pelos grupos de diálogos com vizinhos, em discipulados e na família com os filhos no entorno da mesa, sem deixar de lado a meditação na bíblia, com oração pessoal no início de cada dia.
Edgard F Alves